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artigo

entrevista à reiki & yoga

resumo

Entrevista realizada no âmbito da abordagem da Revista Reiki & Yoga em 2019.

Abordam-se temas transversais ao Reiki e ao posicionamento no Reiki em Portugal de José Pereira Neves, Professor de Nível 4 com Certificação Internacional do Instituto Jikiden Reiki no Japão.

Entrevista à Reiki & Yoga de José Pereira Neves

(2019) jan-mar, Reiki & Yoga, ed. revista

Questão 1.

O que é e o que não é Reiki?

Reiki é a materialização mais simples e essencial da cultura ancestral do Japão. Reiki é, hoje, qualquer metodologia de Formação e Tratamento que preserve integralmente, e com rigor, as raízes e origem do Reiki nos anos 20 no Japão com Usui Mikao Sensei, fundador do método Shin Shin Kaizen Usui Reiki Ryoho, Método de Tratamento Reiki de Usui para o Desenvolvimento do Corpo e Mente. Neste sentido, sabemos historicamente que existem duas linhagens do Ensino do Reiki. Uma é a conhecida como “Reiki de Estilo Ocidental”, com a sua precursora Hawayo Takata Sensei. A partir de Takata Sensei desenvolveram-se centenas de “Sistemas de Reiki” todos eles afastando-se progressivamente da sua origem, nos métodos e nos conteúdos de ensino. Uma segunda, mais desconhecida e preservada na sua essência no Japão, é a linhagem da família Yamaguchi, trazida até à actualidade por Yamaguchi Chiyoko Sensei e seu filho Yamaguchi Tadao Sensei, hoje Presidente do Jikiden Reiki Kenkyukai.  O Jikiden Reiki Kenkyukai é um Instituto, com sede em Kyoto no Japão, que se dedica ao ensino e investigação do Reiki com um enfoque particular na preservação da sua origem, história, metodologias e estrutura de ensino e práticas clínicas e culturais. "Jikiden" é uma expressão em japonês composta por dois kanji (直傳) que contém o sentido de "ensino ou transmissão directa” do Reiki. Assim, Reiki na sua essência, nunca poderá ser confundido com prácticas que não são de origem cultural japonesa. Reiki, quando feito com informação e Formação adequadas, não será nunca confundido com o sistema de Chakras (Ayurveda), o Dogma Espírita (Cultura Espírita de Allan Kardec), o Divinatório (Mediunidades e seus artefactos divinatórios), entre outros. Um Praticante ou Terapeuta de Reiki deve sempre estar informado sobre o que é e o que não é Reiki, e  informar a pessoa que recebe tratamento sobre que técnicas (Reiki e não-Reiki) lhe estão eventualmente a ser aplicadas.

Questão 2.

Os Mestres e os próprios alunos de Reiki mostram-se encantados com esta terapia. Qual é a sua grande e inigualável magia? Como acreditar e aceitar a eficácia de algo que não vemos?

Esclarecer, talvez em primeiro lugar, que a designação de “mestre” não existe originalmente no Reiki. “Mestre” será sempre uma designação dos sistemas de Reiki ocidentalizado devido à tradução e uso indevido do conceito de Sensei. No Jikiden Reiki existem "Praticantes" de Reiki e "Professores" de Reiki. Sendo que Sensei é um conceito que existe, aplicado sem tradução, exclusivamente para o representante da linhagem: Yamaguchi Tadao Sensei. Tal como, à época, seria usado para Usui Sensei, em seguida para Hayashi Sensei, e para Chiyoko Sensei, por ordem cronológica, respectivamente. Neste sentido eu, José Pereira Neves, tendo a Certificação Internacional de Nível 4 através do Instituto no Japão, sou Shihan, que significa "Professor", e não “Mestre”. Os Professores são apenas diferentes dos Praticantes no sentido em que detêm a função e propósito de Ensino do Reiki. O seu tratamento não é mais “poderoso” ou “intenso” por serem professores ou terem mais “instrumentos terapêuticos” do que os praticantes. Pode, eventualmente, um Professor ter mais experiência clínica do que um praticante e sensibilidade no uso dos instrumentos terapêuticos. Ainda assim, um Professor de Reiki deve manter-se humilde, disponível para ensinar e estar preparado para aprender com qualquer praticante. Por mais desinteressante que possa parecer o Reiki não carece de encantamentos nem de crenças em actos mágicos ou milagrosos. Todos os ensinamentos oferecidos na Formação em Jikiden Reiki são passíveis de ser enquadrados na Ciência de hoje, seja nas Leis do Electromagnetismo, seja nas dinâmicas da Física ou Mecânica Quânticas. Neste sentido, o meu trabalho diário é o de retirar o Reiki das áreas do encantamento e da magia. Qualquer praticante e receptor de Reiki deve saber que a sua eficiência e eficácia clínica se deve a processos já bem documentados, seja em casos clínicos de cura efectiva com Jikiden Reiki, seja nos núcleos de investigação em algumas Universidades espalhadas pelo mundo. Na Formação, ou num tratamento com Jikiden Reiki, não é necessário nenhum tipo de crença. Convido  qualquer pessoa, mesmo a mais céptica ou descrente, simplesmente a experimentar. Antes de um tratamento pode não “acreditar”. Depois sentirá e perceberá claramente os seus efeitos.

Questão 3.

Qual a importância dos Cinco Princípios: "Só por Hoje, Sou Calmo, Confio, Sou Grato, Trabalho Arduamente, Sou Bondoso"? Que mensagem transmitem?

 

Existem dois instrumentos terapêuticos primordiais para o Reiki. Um deles será a terapia Reiki propriamente dita, fazendo o uso da imposição de mãos. A outra são precisamente os cinco princípios, Gokai, sistematizadas pelo fundador do Reiki no ano da criação da primeira Sociedade de Reiki, a Usui Reiki Ryoho Gakkai. À época, em 1922, Usui Sensei sentiu a necessidade de criar princípios orientadores de uma vida saudável para o corpo e mente. Aquilo com que o fundador se deparava era com pessoas que, fazendo tratamento com Reiki, melhoravam de imediato para depois, passado algum tempo, voltarem a procurá-lo com o mesmo conjunto de queixas ou doença. Após alguma reflexão, Usui Sensei decidiu criar um conjunto de orientações para uma vida saudável e entregá-los às pessoas que o procuravam para tratamento. Assim, podemos perceber que os Gokai não são apenas um exercício intelectual ou filosófico por parte de Usui Sensei. São sim, um esforço de criação de um instrumento que lhe servia, à altura, e nos serve agora, como complemento terapêutico. É verdade dizer também que, para um praticante, terapeuta ou professor, os Gokai servem como bússola para o seu desenvolvimento pessoal. Os Gokai são orientações num sentido ético. Enquanto Professor de Jikiden Reiki gostaria apenas de deixar uma nota sobre a tradução dos cinco princípios. Também aqui podemos verificar uma distorção de sentido e conteúdo quando comparamos as inúmeras traduções existentes para os Gokai. No decurso do primeiro nível de Jikiden Reiki, Shoden, é dado a cada aluno um Manual homologado e traduzido pelo Instituto onde se pode encontrar a tradução mais fiel e aproximada dos Gokai, a saber: "Só por hoje, não se zango, não se preocupe, seja grato, cumpra os seus deveres, seja bondoso para com os outros." O aluno pode seguidamente, e com o suporte do Professor, encontrar também o sentido original dos Gokai num comentário de Yamaguchi Tadao Sensei. Finalmente o aluno é orientado a entoar os Gokai, na vibração das palavras originais japonesas (kototama). Desta forma preserva-se e honra-se a essência dos Gokai. O ensino dos Gokai não se deve fazer de cada “mestre” fazer a sua tradução e dar o seu sentido ao que lê. Cada Professor de Reiki deve cumprir o seu lugar na história do Reiki e respeitar a essência do que ensina, procurando sempre a sua origem e o rigor da informação que disponibiliza.

Questão 4.

A nível pessoal, em que aspectos é que o Reiki o tem ajudado?

Desde que inicialmente tive contacto com o Reiki Ocidental senti que estava perante um fenómeno com um potencial de transformação especial. Esta sensação tornou-se ainda mais clara quando conheci Yamaguchi Tadao Sensei e ouvi e senti o Reiki Original Japonês: Jikiden Reiki. A pureza da energia original do Jikiden Reiki devolveu-me de uma forma crua o contacto com o que significa ser humano. A Natureza como fonte de tudo e a realidade última de que sou também parte integrante dela. Ao longo do meu caminho no Jikiden Reiki pude sentir a minha transformação e a transformação das pessoas à minha volta. Pude ver a melhoria das condições de Vida, com menos dor e menos sofrimento dentro da minha Família, e processos de curas físicas e psicológicas efectivas com alguns membros que se tornaram mesmo Praticantes de Jikiden Reiki para trazerem este instrumento terapêutico para as suas mãos. Foi e continuará decerto a ser um caminho do qual só pode crescer respeito e gratidão.

Questão 5.

O que podemos esperar do Reiki enquanto Método Terapêutico? Quais as vantagens desta perspectiva sobre o Ser Humano?

Do Reiki podemos esperar um método terapêutico que olha o Ser Humano de uma perspectiva integral. O que quero dizer é que, enquanto a Medicina Ocidental olha o organismo humano e o separa, numa perspetiva bioquímica, funcional e anatómica, a Medicina Oriental, e a prática do Jikiden Reiki, integra o ser humano, o seu organismo e acrescenta-lhe o sistema de circulação energética. Porque aquilo que está por debaixo de qualquer terapêutica energética é a ideia de que no organismo humano, corpo e mente, circulam canais que o alimentam de energia e garantem que os seus sistemas trocam informação de uma forma saudável entre si. Qualquer corrupção ou distorção desta energia ou informação terá um impacto nefasto na saúde do organismo. Desta forma, no caso de sintomas ou doença, iremos sempre poder ver primeiro um impacto energético e só depois este se materializará no organismo. Uma vantagem de olhar o ser humano desta forma é a de que podemos mais efetivamente prevenir doença e, mais diretamente, trabalhar onde a energia não circula ou a informação está corrompida. Podemos esperar do Jikiden Reiki um método pelo qual se introduz energia onde ela não existe em quantidade adequada ou qualidade desejada devolvendo saúde ao organismo humano. Aquilo que Usui Sensei descrevia como “método para curar as doenças difíceis facilmente”. Nos anos 20 no Japão esta frase poderia ser difícil de entender mas através da ciência de hoje temos já elementos que a sustentam de uma forma consistente.

Questão 6.

Em que situações podemos recorrer ao Reiki?

O Jikiden Reiki pode ser utilizado não só como método de prevenção de doença e promoção de saúde mas também como cura efetiva e natural para um conjunto de sintomas ou doenças. Existem três formas de trazer o Jikiden Reiki para as suas vidas. A primeira é receber Tratamento. A segunda é fazer a Formação, pelo menos ao Nível 1, Jikiden Reiki Shoden, que permite à pessoa tratar-se si própria e tratar os outros à sua volta. A terceira é frequentar Workshops reservados a praticantes de Jikiden Reiki. Para mim o importante é que cada pessoa se sinta livre de integrar o Reiki na sua Vida de uma forma simples e que lhe faça sentido. O Reiki não obriga a tratamentos ou auto-tratamentos e não apresenta um sistema de submissão ao Poder. Antes devolve a cada um a responsabilidade de ler a sua necessidade e de se tratar ou pedir tratamento quando lhe fizer sentido ou chegar o seu momento, honrando o instrumento que tem em suas mãos, o Instituto e a própria história do Reiki. Trato todos os dias pessoas com queixas tão variadas quanto ansiedade, depressão, uma dor no braço, uma dor de estômago ou fígado, enxaquecas, uma tendinite crónica ou um cancro. Para qualquer uma destas queixas o Jikiden Reiki apresenta uma abordagem terapêutica natural e diferenciada.

Questão 7.

Até que ponto seria importante o Reiki ser introduzido em todos os hospitais, enquanto terapia complementar para potenciar o tratamento e a cura?

Não só seria importante, como fundamental, introduzir o Reiki no Sistema Nacional de Saúde enquanto valência terapêutica e complementar. Aliás, este ponto faz mesmo parte dos objetivos para o qual o Instituto Jikiden Reiki foi criado: “habilitar pessoas a usar o Jikiden Reiki como substituto efetivo dos cuidados médicos convencionais” e “informar médicos, enfermeiros e outros profissionais da medicina sobre eficácia do Jikiden Reiki iniciando assim a conjugação do uso do Reiki com a medicina ocidental no campo médico convencional.” Enquanto professor de Jikiden Reiki penso que este processo se fará por três vias. A primeira será a de apresentar dados clínicos efetivos de tratamento com Jikiden Reiki ao mundo científico. A segunda via será a de realizar formação em Jikiden Reiki a médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde. E a terceira via será a de constituir núcleos de investigação científica onde se possa elevar a discussão clínica e teórico-científica sobre a forma como se faz Jikiden Reiki. Em Portugal temos já em funcionamento um Núcleo de Investigação em Jikiden Reiki que tem em mãos alguns projectos de relevância teórica, técnica e científica para o desenvolvimento do Reiki em Portugal.

Questão 8.

Diz-se ainda que é benéfico receber Reiki durante a gravidez. Quais as vantagens para a futura mãe e para o bebé?

A abordagem do Jikiden Reiki em relação ao tratamento durante a gravidez é simples. O Jikiden Reiki é um suporte energético para a pessoa que recebe tratamento. No caso da grávida irá também ser assim. A prática diz-nos que quem recebe tratamento durante a gravidez apresenta uma gravidez com menos incidentes, menos riscos e mais usufruto do estado de gravidez, consigo própria e com aqueles que estão à sua volta. O bebé usufrui na medida em que o corpo da sua mãe se encontra mais saudável, mais bem preparado para as exigências da gestação e do parto. Em norma o parto decorre com menos incidentes e menos dor se a grávida tiver recebido tratamento durante a gravidez e/ou receber Jikiden Reiki durante o processo de parto.


Questão 9.

Seria igualmente importante introduzir o Reiki nas escolas? Porquê?

É obviamente importante espalhar o Reiki pelo maior número de pessoas possível para que estas possam tirar partido do instrumento terapêutico que têm consigo e beneficiar os outros à sua volta. Claro que existem locais onde este fenómeno ganha maior relevância. Nas escolas existindo Praticantes de Jikiden Reiki, sendo pessoal docente ou não-docente, haveria certamente maior preparação para lidar com situações de crise em sala ou mesmo com situações traumáticas, físicas ou psicológicas, em contexto de recreio. Uma situação que não se coloca para o Jikiden Reiki é da de dar Formação a crianças dado que Usui Sensei estabeleceu a idade mínima para receber Reiju, conceito de processo a partir do qual o indivíduo pode ser praticante de Reiki, aos 16 anos. Neste sentido, quaisquer trabalhos em contexto escolar que se possam fazer terão que passar por praticantes (maiores de 16 anos de idade) prestarem suporte energético com Reiki às crianças. Honramos, nesta matéria, a regra de Usui Sensei.

Questão 10.

Mikao Usui disse: “Reiki é a arte secreta de convidar a felicidade.” Qual a relação entre Reiki e felicidade?

Shofuku/No Hiho traduz-se por “Convidar Felicidade/Técnica Secreta”. Podemos, nesse sentido retirar a expressão “arte” dado que esta nos reenvia de imediato para o campo subjectivo. “Secreta” é também um conceito que nos liga aqui a um sentido de “o que está escondido”, “o que não se vê”. De facto a energia Reiki não é visível e, neste sentido, é secreta ou, pelo menos, de não apreensão imediata. Em seguida podemos abraçar a ideia de felicidade. Mas felicidade no sentido mais próximo da cultura japonesa. E, obviamente, não a “nossa” felicidade ocidental. Podemos simplificar dizendo que Usui Sensei fala aqui de um caminho para a plenitude de corpo e mente. A felicidade como caminho, e não como estado, como nós ocidentais usamos a expressão: “Estou feliz/Sinto-me feliz hoje!” Proponho uma leitura mais terrena e simples, menos esotérica, da expressão de Usui Sensei: “Através da energia Reiki caminhamos progressivamente na direcção da saúde plena, de corpo e mente.”

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